PB E PE: DUAS GRAMÁTICAS DISTINTAS?
No quadro da Teoria Gerativa, Chomsky (1985) propõe a distinção entre
língua externa (Língua-E) e língua interna (Língua-I). A primeira é entendida como o conjunto de todos os enunciados que podem ser produzidos por uma comunidade de fala. Já a Língua-I, ao contrário, deve ser tomada como um objeto mental, o saber que os indivíduos têm da língua, ou seja, trata-se do sistema cognitivo computacional que dá conta da linguagem e que consiste de um conjunto de propriedades abstratas (princípios e parâmetros).
No contexto dessa teoria, chama a atenção o caso do PB em cotejo com
o PE, uma vez que diferentes trabalhos lingüísticos sobre a língua oral, tanto no âmbito da Teoria da Variação (cf. Omena, 1978; Duarte, 1986; Corrêa, 1991; Freire, 2000, entre outros) quanto no da Teoria Gerativa (cf. Galves, 1993, 1998; Cyrino, 1993, 1997; Kato, 1996, entre outros), têm demonstrado que a variedade brasileira do português está passando por um processo, já bastante acentuado, de perda dos clíticos de terceira pessoa.
Concomitantemente a esse processo, houve uma extensão dos contextos de ocorrência do objeto nulo, além do inegável emprego do pronome nominativo em função acusativa no PB, fatos que o distinguem ainda mais do PE. Diante dessas constatações, surge a seguinte questão que ora será discutida: seriam o PB e o PE duas Línguas-I distintas?
Na análise dessa questão, este trabalho assume a hipótese de Galves
(1998) segundo a qual o PB e o PE constituem duas Línguas-I distintas, o que conseqüentemente leva a admitir a existência de duas gramáticas: uma brasileira e outra portuguesa. Por essa razão, torna-se injustificável a praxe escolar, calcada ainda nos compêndios gramaticais dos grandes mestres do passado, de desprestigiar a primeira em favor da última, assunto que será retomado no capítulo quinto deste trabalho.
http://www.letras.ufrj.br/posverna/doutorado/FreireGC.pdf